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domingo, 22 de maio de 2011

Cordilheira dos Andes - Pai e filho de treze anos

Cordilheira dos Andes - Dezembro de 2008
Chile e Argentina

  
Uma aventura realizada por Pai e Filho de apenas treze anos de idade.

Essa não é apenas mais uma historia de viagem de aventura, mas muito mais que isso, na verdade a realização de um sonho e o cumprimento de uma promessa feita a mim mesmo.

Em 1995 exatamente no dia 30 de Junho, nascia meu primeiro filho. A ele demos o nome de Shamir. Para comemorar o nascimento resolvi fazer uma viagem de aventura em uma moto custom, estilo que gosto muito. Mas não poderia ser uma viagem qualquer. Teria que ser grande, por caminhos desconhecidos e que me desafiasse.

Escolhi então os paises do Merco Sul, cruzando a Cordilheira dos Andes, coisa que até então, só havia ouvido falar, ou mesmo visto em filmes, em especial - Os sobreviventes dos Andes. Um relato assustador de um acidente aéreo.

Em poucos dias já estava com os alforjes prontos, algumas roupas de frio, algum dinheiro no bolso, uma moto de baixa cilindrada e uma grande expectativa. Muita ansiedade e um grande entusiasmo se misturavam a enxurrada de sentimentos e emoções que afloravam naquele instante impar.

- A promessa

Naquele ano de 1995, antes de sair rumo a jornada empreitada, olhei firmemente para o garoto, recém nascido, frágil, dependente, inocente e que ainda não tinha sequer noção do que o aguardava vida afora e, dentro de mim, lá no fundo com um ar poético, prometi: Um dia faremos essa mesma viagem juntos.

- A partida

Saí em uma manhã agradável, com temperatura amena, ainda na madrugada. Queria ganhar tempo no meu primeiro dia rumo ao desconhecido.

Logo após poucos quilômetros de estrada, ainda sequer tinha saído totalmente da cidade, fui acometido e tomado por uma forte emoção, comecei a gritar e chamar o nome do filho – Shamir... Shamir... Um dia faremos essa viagem juntos. As lagrimas começaram a cair.
Primeiramente algumas lagrimas tímidas; lagrimas quentes; elas escorriam pelo rosto e eram prontamente afastadas e enxugadas pelo vento que soprava e invadia o capacete.

De pronto percebi que em uma viagem como essa, precisamos muito mais que roupas quentes, dinheiro ou uma maquina possante. Precisamos da força interior explodindo em megatons de entusiasmo; da persistência; da determinação e principalmente da ação. Sim! A ação. Pois é ela que nos move e nos leva a realização dos nossos sonhos. Impulsiona-nos ruma a conquista. Quantos não são aqueles que jamais saíram da fase do planejamento e promessas vazias que jamais serão concretizadas, justamente pela falta da ação. A frase mágica brota subitamente e começo a pronuncia-la – “Lá os fortes chegaram, os fracos desistiram e os covardes nem lutaram”.
- O medo e a duvida

Já na estrada e refeito, começo a refletir sobre a possibilidade real de cumprir a promessa e realizar o sonho de um dia ter o filho junto em uma viagem tão cheia de desafios e perigos a cada quilometro percorrido. Ah! Mas os grandes navios estão mais seguros nos portos, só que não foi pra isso que eles foram construídos.

A estrada nos proporciona momentos profundos de reflexão. Na imensidão do universo e no horizonte que insiste em se afastar mesmo que corramos mais e mais velozmente, fica visível nossa fragilidade e pequenez. O momento de solidão serve para aprimorar a percepção da vida e sua efemeridade. Desenvolver a sensibilidade, reconhecer que há sim, um caminho longo a ser percorrido para dentro de nós mesmos.

O tempo dará a resposta certa e irá sanar qualquer duvida que possa pairar em nossa cabeça, ele é o melhor dos mestres. Mas disse alguém que o mestre tempo, sempre mata seus discípulos.

A pergunta volta a me atormentar. Será realmente que um dia realmente farei tal viagem com meu filho? Terei tempo pra isso? Estarei vivo? Ele irá me ajudar a realizar o sonho ou se negará frente ao desafio proposto? Muitas perguntas, mas as respostas só poderiam surgir com o tempo mesmo.

- Frente a frente com o desconhecido

Não demorou muito e logo estava eu começando a subir a Cordilheira dos Andes. Nunca havia visto neve, mas em uma montanha distante, lá estava o branco cristalino e reluzente dela. Comecei a fotografar desesperadamente.

O frio foi chegando e sem roupa adequada comecei a sofrer. Como eram intensas as rajadas de vento que sopravam. A moto falhava muito devido ao ar rarefeito, uma 125 cc, carburada, pasmem. O frio parecia atravessar o corpo, intensificado pelo vento forte que soprava e me obrigava a pilotar a moto inclinada. Saí de quase 40 graus e agora estava ali, abaixo de zero, tremendo muito, com medo, sozinho, a neve caindo e encobrindo a viseira do capacete. Varias quedas ocorrem devido ao gelo acumulado no asfalto. Não podia voltar, pois a distancia era maior, tinha que seguir em frente montanha a cima.

Cheguei ao topo quase literalmente congelando para fazer a travessia da Cordilheira dos Andes. Em pensamento voltei rapidamente a minha Cidade e me pus a imaginar, quando e como faria tal viagem com meu filho. Naquele momento começava a querer enterrar o sonho e negar a mim mesmo a promessa feita. O desafio parecia ser maior. Agigantava-se bem a minha frente e quase me sufocava o sonho que naquele momento estava tão distante. A frase inicial precisava ser lembrada: Lá os fortes chegaram, os fracos desistiram e os covardes nem lutaram.

Somente os que viajam sabem como somos chamados de loucos. Conhecemos muito bem os que querem nos fazer acreditar que não vale a pena lutar pelos nossos sonhos e desejam ardentemente que nos nivelemos a eles; sem sonhos, vazios e cheios medos que contaminam o mundo. Vivem a contar os feitos de outrem. Preferem ser expectadores passivos da vida que tanto tem a nos oferecer, para num futuro próximo, lamentar o que nunca conquistaram porque jamais lutaram por seus sonhos.


- A longa espera

Durante treze longos anos não esqueci jamais que tinha um sonho a ser realizado: viajar com meu filho de moto fazendo o mesmo percurso de 1995.
De volta a casa eu reencontro a família, amigos, e relato os fatos marcantes ocorridos na viagem. Falo do que vi; do que senti; do que toquei; do que ouvi; falo do cheiro do asfalto molhado; do aroma dos campos; conto sobre o medo; relato detalhadamente tudo e percebo como ficam marejados seus olhos, como brilham com tão fascinante historia. Sei que é uma historia única, vivida por mim e que ninguém poderia de forma alguma tê-la vivido em meu lugar. É a minha historia que agora desperta desejos e cria sonhos nas pessoas.

O Menino cresce, dá os primeiros passos, começa a balbuciar algumas palavras, mas ainda não é chegada a hora. O tempo há que ser cumprido. As primeiras lições começam a ser ensinadas. Chega o primeiro aniversario e outros seguem acumulando verões e vários invernos.

Calmamente espero o dia, mas na verdade não tenho noção exata de quando seria esse dia. Não planejei treze anos depois, apenas teria que ler nas entre linhas da vida e perceber o momento certo.

Uma queda aqui, outra ali, um choro, o menino aprende a andar de bicicleta. Poxa! Bicicleta, duas rodas, ele tem domínio, gosta das duas rodas. Então o Shamir se apresenta para a vida. Passa a gostar das motos, fala em manobras radicais em seu skate, começa a se interessar pelas viagens do Pai. Começo a fazer alguns testes. Pequenas viagens de carro com toda família. Em pouco tempo já havíamos cruzado quase todo o pais e eles adoram a estrada. Nossa! Ta chegando o dia.



- O Sinal. Agora sim! Está na hora.

Em 2007 resolvo fazer o deserto do Atacama de moto com minha esposa Katia. Essa era sua primeira viagem de aventura em cima de uma moto na garupa. Na volta, as fotos despertam mais e mais o interesse do menino que agora já havia cumprido o seu tempo de espera. Interessado quer saber sobre os detalhes, fala sobre a neve, o frio. Pergunta sobre velocidade e finalmente o sinal: ele derruba minha nova moto. Uma Suzuki, Boulevard, 1500cc, pesada, mais de trezentos quilos.

Aviso a esposa que iremos fazer a tal viagem, sem muito alarde. Um aviso simples e que seria necessário que ele tirasse boas notas na escola para irmos juntos cumprir a minha promessa e realizar um sonho que agora já não era mais só meu. Mas nosso! Meu e dele também. Como o tempo faz coisas maravilhosas. Um sonho que era só meu, agora é nosso.
- O Grande dia

Finalmente, o momento é agora. Agora sim! O menino está taludo, começa a engrossar a voz, fala de sua suposta namorada, alardeia seu grande momento - Vou viajar de moto com meu Pai. Vamos fazer uma viagem internacional.
Como a treze anos atrás fiz todo o preparativo da viagem. Revisão da moto, seguro, documentação, autorização da mãe, passaporte em dia e o mais importante; estávamos determinados a conquistar o tão desejado sonho.

Uma maquina possante, grande, luxuosa, admirável. Desperta e chama a atenção dos curiosos. 1500 cilindradas no motor, capaz de levar e trazer em segurança dois sonhadores rumo a conquista.

Como treinamento nós começamos a fazer passeios nos finais de semana e a cada dia ele vai conhecendo mais sobre grandes viagens. Conhece os amigos do Pará moto clube e começa a escutar emocionantes historias sobre aventura em duas rodas. Faz pergunta e demonstra interesse real. Quando vamos sair? Pergunta o pequeno aventureiro.

- Vamos então?

Saímos exatamente no dia 12 de dezembro de 2008, mas não sem antes escutarmos coisas do tipo: Isso é loucura! Uma viagem tão grande com um menino. Será que ele vai agüentar? Não é perigoso? É seguro? E se a moto quebrar? Assalto não tem na estrada?
Ah! Se os agoureiros de plantão soubessem que há um preço a ser pago pela realização dos sonhos. Por isso, muitos, pouco ou quase nada conquistam, por não quererem pagar o preço justo.
A televisão mostra a gloria dos atletas; os jornais anunciam e enaltecem os vitoriosos; mas bom seria se também mostrassem as horas a fio que passam em treinamentos. Muitas vezes para uma apresentação que não passa de alguns segundos.

Acordamos naquela manhã muito cedo, mesmo porque minha sogra resolveu aparecer e ficar em casa com a minha esposa durante a viagem. Ela chegando e eu saindo. Só rindo mesmo.

Saímos super dispostos, alegres, satisfeitos e sorriso largo por dar o ponta pé inicial que nos levaria tão longe e em tão grande empreitada.

A despedida é simples e rápida para não causar comoção. Um até logo breve, funcionamos a moto e partimos em busca do sonho. Deixamos para traz alguns míseros e medíocres pessimistas. Mas também centenas de pessoas que torciam e sabiam que o que estávamos a realizar valeria a pena.

Em poucos instantes o asfalto negro se apresenta com suas faixas brancas e amarelas a demarcar o terreno no qual iríamos percorrer. Os primeiros raios do sol nos saúdam e sinto que uma historia de vitória e conquista estava sendo escrita naquele momento. Sabia que não voltaríamos os mesmos. Seriamos polidos, lapidados, testados, desafiados, faríamos parte da grande opera e assim, voltaríamos maiores, mais maduros e fortes, prontos para mais um ato da própria vida.


- Sonhos interrompidos

O relógio posto bem a minha frente começa a marcar segundo a segundo, hora a hora e logo, dia após dia. São momentos de muita intimidade para comigo mesmo. Sozinho dentro do capacete, meus pensamentos voam e parecem independentes, desgarrados, soltos e, começam a me desafiar cada vez mais. Volto treze anos atrás e percorro um caminho longo. Quantos sonhos não foram interrompidos nesses longos treze anos? Muitos filhos perderam seus pais. Muitos pais perderam seus filhos. Alguns foram vítimas da fatalidade da vida, outros, da crueldade humana. Sonhos interrompidos. Lagrimas, lagrimas e mais lagrimas. Elas caem e voltam a escorrer pelo rosto. Prontamente o vento se encarrega de enxugá-las, mas são lagrimas insistentes que caem cada vez mais. Penso nos desabrigados de Santa Catarina. Sonhos interrompidos, outros apenas adiados. Como sou grato a vida que tenho, recebi como dádiva de Deus e agora tenho a oportunidade da realização de mais um sonho, agora em andamento.
Momento de profunda reflexão. Lembro-me do meu primeiro salto de pára-quedismo quando meu professor morreu em um salto mesmo antes que eu pudesse saltar. Sonho interrompido. Mesmo assim, não desisti e alguns dias depois, lá estava eu, dentro de um avião, a cinco mil pés de altura, pronto a cumprir mais um desafio.

- A Chuva torrencial

Desde o primeiro dia de viagem fomos agraciados com muita chuva. Isso mesmo, agraciados. Aprendi nesses longos anos de viagem que a natureza merece todo nosso respeito. As vezes um trégua, mas logo estava de volta. Foram quatro dias ate foz do Iguaçu com muita chuva. Sempre fazia questão de mostrar ao filho dizendo: Mas que chuva legal! Agradecia pela chuva.
Colocávamos e retirávamos o casaco de chuva a todo instante. Lá vem ela! Gritávamos ao primeiro sinal.

- Até logo Brasil

Em foz do Iguaçu visitamos as Cataratas e a usina de Itaipu. Duas grandiosidades. Uma construída pela mão do homem e a outra a própria natura fez questão de esculpi-la. Grande sorte a nossa, são poucos os que têm a oportunidade de testemunhar tão grandiosas obras.
O som da água que cai fortemente das cataratas soa como musica suave. A nevoa molha toda a plataforma, mas mesmo assim não afasta nenhum dos que observam atentamente e boquiabertos com a grandiosidade espetacular. Um presente.

Compramos o seguro carta verde, documento obrigatório no Merco Sul e demos inicio a nossa segunda etapa da viagem aproveitando o dia para uma visita ao comercio do lado paraguaio. Um Pneu que custa no Brasil R$ 790,00, comprei por R$ 280,00. Que bom!

- Argentina a vista
Após três dias em foz para revisão da moto, visita ao Paraguai, cataratas e Itaipu, entramos finalmente em território Argentino.
Agora já não mais falávamos, mas sim ablávamos. Nossa! Será que existe o termo? O espanhol é nossa língua oficial por vários dias.

Cruzamos a fronteira e as primeiras placas começam a aparecer. Bem Vindos a Argentina. Alias, “Bienvenidos”. Uma parada para as fotos e o registro que comprovaria nossa estadia em território de los hermanos.

- A Felicidade estampada

Éramos só felicidade. Nos divertíamos a cada quilometro percorrido. Tudo era motivo de risada, riamos até quando não deveríamos. Mas era nosso momento. O sorriso largo e os olhos brilhando, eram o sinal de que estávamos conquistando nosso sonho.
Muitas fotos nos mesmo lugares de treze anos atrás, algumas na mesma pose de antes. O Shamir sempre fazia questão de me fazer contar a historia vivida anteriormente. Para mim era gratificante perceber o interesse dele.
Um verdadeira aula de geografia “in locu”. A cada instante uma lição aprendida. São momentos que dificilmente o tempo apagará da memória.

Não tão lentamente fomos cruzando a Argentina em direção ao Chile em busca das famosas curvas. Esse local era muito marcante, pois ali mesmo quase morri de tanto frio a primeira vez que estive lá. Era parte da historia que sempre contava a ele.

- Calor escaldante

Em território Argentino experimentamos acredito eu que o maior calor de nossas vidas. Muito quente mesmo. Rodamos um dia inteiro debaixo de muito sol. Em alguns trechos não tínhamos nem água para beber. São retas intermináveis. O asfalto no horizonte parecia querer levantar vôo. Mas estávamos ali, agora pagando parte do preço cobrado pelo sonho a se realizar.
A frase preferida nesse momento era: “Mas que solzinho bom”. Assim como também quando encaramos chuva torrencial no Brasil. Força para suporta o que não podemos mudar.
A cada instante me surpreendia cada vez mais com a força de um menino de apenas treze anos de Idade. Mas logo me recordava e sabia que muito mais ele teria para tirar de dentro de si mesmo, pois mesmo em tenra idade, já havia aprendido a pagar o preço da conquista. Não há almoço grátis.
Os desafios iam sendo propostos durante a jornada e, um a um, iam sendo superados e dominados. Em um instante a chuva; em outro, o sol escaldante; o vento e o frio. Em nenhum momento disse a ele que seria fácil, apenas que seria possível. O troféu é recebido na chegada, mas a conquista é passo a passo.

- Curvas a vista

Já cansados de tantas retas intermináveis, decidimos tomar um caminho que eu não havia percorrido antes em varias das minhas aventuras pela Cordilheira dos Andes. Um caminho sinuoso que identificamos no mapa. Após algumas informações dos moradores locais decidimos seguir via Córdoba passando por Carlos Paz até Mina Clavero que nos levaria a Mendonza próximo a fronteira do Chile.
Esse percurso recomendo a todos. Demora um pouco mais, devido a quantidade de curvas a serem vencidas. Para quem anda de moto sabe a maravilha que é o inclinar da moto nas curvas. Ah! Como é incrível.
As curvas iam se apresentado uma a uma, sinuosas, desafiadoras. Exigiam respeito da nossa parte, mas seguíamos firmes e determinados. Uhu! Uhu! Gritávamos tanto que chegamos a ficar com a garganta doendo. Recompensa! Isso mesmo. Estávamos sendo recompensados pela coragem, determinação e persistência.

- A Velha e gélida montanha

Chegamos ao topo da velha e desafiadora montanha. Um nevoeiro cai repentinamente e cobre tudo com uma imensidão branca e gélida. O frio é intensificado pelo vento forte que sopra e ainda tínhamos setenta quilômetros até a próxima cidade.
No ponto mais alto da montanha há um local de lanche, eles chamam de “Parador del Condor”. Entramos e estava quentinho, aconchegante. Pedimos logo um submarino. Leite quente com uma barra de chocolate que derrete e aquece imediatamente.
Hora de decidir o que fazer. Continuar seria temeroso, pois ainda tínhamos muitos quilômetros pela frente e muito frio a ser vencido. Perguntei ao dono do local se havia hospedagem, ele prontamente disse que sim e de imediato acertamos o pernoite.
Essa foi uma noite inesquecível. O Shamir experimentava pela primeira vez na vida um frio realmente intenso.
No apartamento havia um aquecedor a gás. Ligamos e logo decidimos desliga-los com medo de algum vazamento. Besteira! Mas assim decidimos.
A noite passou tão depressa que mal havíamos adormecido e já estava na hora de mais um dia a ser vivido intensamente. Sim! Intensamente. Assim nos propúnhamos a viver cada dia. Extraindo o que de melhor tivéssemos pela frente.


A Cordilheira nos dá boas vindas e agradecidos retribuímos sussurrando a cada instante um ao outro. Olha! Veja! Lindo! Como é alto isso aqui. Maravilhados e sedentos, íamos alimentando a alma com tão bela obra do Criador.

Subindo e descendo as grandes e imponentes montanhas, estávamos agora nos dirigindo a tão esperada fronteira do Chile com a Argentina. Lá estão “Lãs Cuervas”. Também conhecido como “Los Caracoles”. Um seqüência de curvas tão fechadas e altas que chega a dar um frio na barriga só de pensar que passamos e fomos testemunhas da sua existência.

- O monte Aconcágua

Chegamos finalmente ao monte Aconcágua. Em quéchua significa: Sentinela de Pedra. O ponto mais alto das Américas. A Placa lá fincada indica 6.959 metros de altura.
Eu sempre soube dos aventureiros escaladores sobre o Cemitério dos Andinistas. Local de varias lápides de escaladores que sucumbiram ao desafiar a Velha Sentinela de Pedra. Desafio por poucos vencido.
Ficamos algum tempo a fotografar o local para que jamais venhamos a nos esquecer que o feito se trata de um privilegio para poucos. Estávamos ali, local de pouco movimento e inóspito. Vento muito forte, pouca vegetação, nenhuma arvore. Somente o gelo eterno que cobre a cadeia de montanhas milenares.
Escaladores do mundo todo, aventureiros, desbravadores, ou apenas gente comum igual a nós, sonharam um dia presenciar a imponência da montanha. Como tantos outros, nós também tivemos nosso momento de intimidade com A Velha Montanha.
- Chile a vista

Deixamos a montanha por um instante, pois na volta teremos mais um encontro com ela. O Caminho será o mesmo.
Logo chegamos a aduana onde temos que preencher uma quantidade de papeis, muita burocracia e pouca vontade por parte dos funcionários em atender bem os visitantes.
Hora de fazer o cambio e comprarmos dinheiro chileno. Não muito, pois a maior parte das contas é paga com o cartão de credito. É mais seguro.

- Laços fortes

Não demorou muito e já estávamos em território Chileno. Cidade de Los Andes, mais precisamente para dormir e na manhã seguinte seguir para San Tiago do Chile, a Capital.
Muitos quilômetros percorridos até o momento e os Laços Fraternos são mais fortes entre Pai e Filho. Ele pergunta a todo instante se eu estou sentindo frio. Na verdade deixei parte das minhas roupas de frio em Imperatriz, achei que tinha roupa demais e isso o estava preocupando.
A forte união estabelecida entre nós, nos leva a desejar que o filho mais novo o Amir, de apenas cinco anos de idade, também possa um dia repetir o nosso feito. Ele fala do irmão com muito entusiasmo e diz como sente saudade de casa e da Irmã também, a Ámila. Mas deseja que um dia possa trazer o pequeno irmão a conhecer o que ora tem a oportunidade e privilegio de ver, sentir, ouvir e ainda provar. Faz cálculos e fala da motocicleta que levará o pequeno irmão a conhecer tudo o que ele também conheceu.
Bonito! Por fora pareço sereno, mas por dentro estou explodindo em tanta alegria. Óculos escuros escondem a momentânea fragilidade do Pai Herói. Uma lagrima solitária tenta criar coragem, mas é contida e permanece inerte sem expor nenhum sentimento visível.

- San Tiago finalmente.

Chegamos a San Tiago e fomos logo visitar alguns pontos turísticos de nosso interesse. Entre eles um teleférico que lá de cima vemos a cidade por completo.
A essa altura da viagem, muita diversão já havíamos proporcionado a nós mesmos. Tocávamos apelidos a todo instante. As vezes passamos dias apelidando um ao outro carinhosamente. Era “chico”, “macho”, termos muito usado no ceará, “Lula” e muitos outros. Lula foi um senhor em Villa Maria que nos chamou assim por sermos Brasileiros. Ele só nos chamava de Lula.

San Tiago foi exatamente a metade da viagem. De lá retornaríamos a cidade natal. Catanhal – Pará.

Uma forma de diversão que encontramos foi fazer reportagens na viagem. Eu era o reporte e ele o Shamir, era o cinegrafista. Gravamos vários vídeos engraçados. Pelo menos pra nós que nos divertíamos muito.
A brincadeira era simples. Procurávamos alguém e eu fazia a entrevista. Como a entrevista era em espanhol eu fazia a tradução do que o sujeito falava. Acontece que a tradução era totalmente o contrario do que ele hávia dito, ou eu mesmo inventava algo que o entrevistado jamais dissera. O Shamir revia tudo a noite no hotel e dávamos boas gargalhadas com a brincadeira.

- O Retorno

Felicidade na brincadeira no gelo.
De volta percebemos que perto do túnel Cristo Redentor, havia gelo. Paramos para algumas fotos e o Shamir não mais queria sair do local. Realmente é muito bonito. Ele pulava, escrevia o nome no gelo e repetia: Isso é o que eu sempre quis fazer – então faça dizia eu. Momentos gelados e muito agradáveis ao lado da companhia do filho que realizava um sonho antes do Pai, mas logo depois nosso.
Vamos! Vamos! Você está atrasando a viagem, disse eu. Agora pretendíamos chegar a nossa cidade em tempo da passagem de ano novo. Estávamos há vários mil quilômetros de distancia.

O retorno da uma grande viagem deve ser feito com muito cuidado. Nesse momento, muitos acidentes acontecem justamente na volta devido a ansiedade e o cansaço que se abatem sobre o corpo.
Já havíamos presenciado muitos acidentes durante o trajeto. Em um deles o corpo ainda estava lá, dentro do carro exposto e enrolado em um lençol. Muito triste, mas a sena é costumeira em nossas estradas. Difícil em uma viagem longa igual a essa não presenciar um acidente grave.
 

Fotos da Viagem ...
Video Da viagem ...

2 comentários:

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  2. Grande viagem, em alguns momentos vieram lágrimas,... já fiz pequenas viagens com minha tornado, vc conseguiu o que poucos pais conseguem que é ver o rebento se interessar pelo que mais ama. e estou sendo o primeiro a comentar essa postagem. não esquece da parte II. forte abraço.

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