logoviagem

logoviagem

domingo, 20 de janeiro de 2008

Moto Aventura, deserto do Atacama Chile

Parte I
Por: Waldez Pantoja
***********************
"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”.
Amyr Klink - Mar sem Fim

Os grandes navios estão mais seguros nos portos, mas não foi para isso que eles foram feitos.


Com esta frase iniciamos nossa aventura rumo ao Deserto do Atacama no Chile, eu Waldez Pantoja e minha esposa Kátia. Uma aventura planejada e estudada com bastante antecedência. Na verdade o sonho de muitos, mas a realização de poucos.
Em casa deixamos a família, três filhos: Shamir ali, Ámila Ali e o mais novo de apenas três anos, Amir que já se mostra um grande viajante, viaja desde quando foi gerado.
Nosso grande objetivo esteve sempre muito claro, sabíamos que seriamos exigidos a dar o Maximo do nosso esforço tanto físico quanto psicológico. Desafiar os próprios limites, vencer os obstáculos interpostos em nossa jornada e ainda vencer o medo do desconhecido.
O próprio tempo que ora se mostrava um aliado, também tinha seu lado desafiador, tudo vinha em demasia. Quando chovia; quando ventava; quando fazia sol; quando éramos açoitados pelo frio intenso e impiedoso tínhamos que nos adequar e principalmente saber respeitar os limites do próprio corpo. A natureza nos pede respeito, contraria-la é por em risco a própria vida.
Saímos no dia 26 de setembro de 2007 as cinco da manhã rumo à foz do Iguaçu, por onde entramos na Argentina e seguimos rumo ao Chile para encontrar o grande e majestoso Deserto do Atacama, obra prima da natureza.
O primeiro trecho da viagem já bastante comum e conhecido de outras aventuras percorremos sem muitas novidades. Apenas a ansiedade é que nos fazia vez por outra esquecer inclusive de almoçar, foi o que aconteceu no primeiro dia, não sentimos fome alguma e continuamos a jornada com o pensamento voltado as maravilhas que iríamos encontrar pelo caminho a fora. Ansiedade pura.
Em foz do Iguaçu tratamos de adquirir o seguro carta verde, documento obrigatório para quem vai aos paises do Merco Sul com veiculo próprio.
No primeiro dia já em território Argentino dormimos em Corrientes e no segundo dia em Salta já prontos para encarar o tal deserto do Atacama.
Nos hotéis onde dormíamos e por onde passávamos tínhamos um lema, fazer amizade com o Maximo de pessoas possível, nós poderíamos precisar da solidariedade de alguém em algum momento. Isso realmente aconteceu.
Em uma viagem de aventura principalmente de moto a solidariedade é artigo de primeira necessidade, em alguns momentos você será solidário, em outro você poderá precisar da solidariedade de alguém. Tivemos a oportunidade de ajudar duas moças com o carro quebrado, na verdade o carro esquentou por falta de água no radiador. Depois de fazê-lo funcionar demos continuidade a jornada.
Em território Argentino vem a tona o futebol, inevitável não ouvir perguntas a respeitos dos nossos craques e também alguns comentários sobre Maradona.
**************
Algumas fotos no Link Acima.
Cont... Parte II

Atacama - Parte II

Parte II
*****************


Pegamos uma rodovia errada na Argentina e rodamos alguns quilômetros a mais, tivemos que retornar e recomeçar na rota correta, erro de 160 quilômetros. Cansaço e gasto com combustível. Para compensar o erro tive que enrolar ainda mais o cabo do acelerador, 140 km.
Saindo da cidade de Salta em direção a Susques começamos realmente a nossa aventura. Nesse trecho já há a necessidade de muita atenção com o combustível, os postos de gasolina ficam cada vez mais distantes e temos que calcular a quilometragem a todo instante. A moto tem seu consumo alterado e passa a consumir mais combustível. Logo percebemos os efeitos da altitude que cada vez mais começa a nos afetar, falta oxigênio tanto para a moto quanto para nós.
No dia 4 de outubro em direção a Susques, tivemos o privilegio de almoçar com uma família de nativos em um vilarejo chamado três poços. O cardápio bem sugestivo, carne de llama. Carne saborosa, nós não percebemos muita diferença da carne de gado. Bife delicioso.
O convívio com os nativos é muito interessante, você aprende bastante e eles ainda te passam informações valiosas. Muito interessante mesmo.


Em Susques está o ultimo abastecimento para chegar a San Pedro do Atacama. O primeiro posto que tentamos não havia combustível, tomei um susto porque pensei que só havia um posto, mas logo descobrimos que havia outro ao lado do hotel em que ficamos hospedados. Um hotel muito aconchegante e limpo, mas acima da media em termos de valores.
O que nos chamou atenção mesmo foi o fato de termos internet no hotel e ainda Tv Sky para assistirmos. Muito legal!


O proprietário do hotel nos disse que o local chega fácil aos 30 graus negativos no inverno. Estava bastante frio, mas suportável ainda.
A respiração ofegante começa a incomodar. Minha esposa Kátia reclama do cansaço, na verdade a falta de oxigênio é evidente, mas tínhamos uma noite inteira para nos acostumarmos a altitude. Coisa que não ocorreu.
No jantar conhecemos muitas pessoas, fizemos amizade com todos que estavam hospedados e apresentei até alguns truques de mágica para animar a noite fria de Susques. Eles adoraram, fizemos um barulho legal, coisa de brasileiro.
A amizade que fizemos com os hospedes foi o que nos valeu e salvou a Katia de passar por momentos de frio impiedoso, ela tremia feito vara verde. Conseguimos chegar até passo de Jama, onde fizemos os tramites para saída da Argentina.
A solidariedade veio ao nosso socorro e o casal que estava de carro se ofereceu para levar a Kátia até San Pedro do Atacama, já que ela estava passando por momentos realmente difíceis, frio extremo. Aceitamos sem nenhuma cerimônia.
Em Susques também, tratei de levar combustível extra, mas o calculo que fiz, não contava com o com sumo extra da moto devido a altitude. A moto sofria bastante e não adianta acelerar, a velocidade é uma só quarenta quilômetros por hora. O Maximo que conseguia era cinqüenta, não mais.



O Frio mostra a sua verdadeira face...

O frio começa a me acoitar sem nenhuma piedade, o vento sopra e sinto como se atravessasse meu corpo, cortando até a alma. Todo o estoque de roupa de frio já estava em uso, e nada adiantava. Até as cuecas foram usadas para cobrir a cabeça e o rosto. Nessa hora é que me veio a frase inicial: “Grandes navios estão mais seguros nos portos, mas não foi para isso que foram feitos.” Comecei a cantar, digo cantarolar a frase.

Altitude e seus efeitos....

Quatro mil e duzentos metros de altitude, o corpo da o sinal de desgaste, a moto falha cada vez mais. No horizonte vejo como se alguém movesse a nevoa com as próprias mãos. O vento sopra de maneira assustadora e o medo se abete sobre mim.
Sozinho começo a pensar, reflito sobre o grande desafio, penso na família, penso na esposa que deveria voltar em segurança, tinha uma grande responsabilidade em minhas mãos. O termômetro marca oito graus negativos. As pernas dos óculos parecem queimar quando mudo de posição no rosto. Um quilometro parece uma eternidade e não consigo fazer a moto render.
De repente o combustível acaba e trato logo de colocar o combustível reserva. Um martírio. Não consigo devido ao vento forte que sopra e joga a gasolina fora. Com muito esforço consegui repor, mas perdi bastante combustível precioso e que me faltaria logo em seguida.


Combustivel acaba novamente...

O combustível acaba novamente e mudo para a chave reserva. Contava com três litros fazendo pelo menos quarenta quilômetros, mas a moto só estava fazendo dez quilômetros por litro e logo fico novamente sem nenhum combustível. Agora aparentemente todo o combustível se esgota. Quando isso aconteceu, eu estava exatamente no topo da montanha e começava a descer.
Uma mistura de medo e pavor toma conta de mim. Lembrei que dois brasileiros me falaram de uma descida de quarenta e dois kilometros com o motor desligado, eu estava exatamente no ponto da descida. Desliguei o motor e o milagre aconteceu. Desci até chegar muito próximo da aduana chilena, virei a moto e consegui mais alguns metros ate o posto, depois de passar pelo tramite de ingresso no Chile. Consegui! Estamos em San Pedro do Atacama. Felicidade geral.
Alguém me disse depois que não foi o virar da moto que me deu mais algum combustível, na verdade o combustível não acabará totalmente. Sei lá! Cheguei.
A Kátia que estava com o casal do hotel já me esperava preocupada pela demora em chegar.
San Pedro do atacama é um local árido, inóspito e cheio de turistas por todos os lados. Tudo é explorado ao máximo.

Chegando ao Chile....

Agora em território Chileno, estávamos efetivamente no Deserto do Atacama. Tudo muito seco, sem vegetação, um calor infernal que logo se transforma em frio ardente, isso mesmo, ardente porque queima como se fosse fogo. A temperatura muda de 37º para 5º em questão de horas, as vezes minutos, se você estiver na estrada.
Logo chemagos a Calama.Uma cidade muito fria em território Chileno. Aproveitamos e fomos usar a internet e jantar. Uma cidade não menos fria se comparada as outras que já havíamos percorrido. Saímos de Calama as 6 da manhã, um frio intenso, a noite fazia três graus, mas o frio já não mais nos amedrontava. Seguimos para Antofagasta.
Muita gente que faz essa travessia de Susques até San Pedro do Atacama leva Oxigênio, em especial pessoas idosas, uma boa alternativa, já que realmente respirar acima de 3600 metros é um sacrifício para quem não mora no local.
O frio intenso nos coloca diante de uma situação bem interessante. Precisávamos de mais luva, a que tínhamos não estava resolvendo. Paramos para um chocolate quente em um posto e dentro do banheiro lá estava a luva que precisávamos, sozinha, sem dono e pedindo, me leva! A coitada da luva ficou lá sozinha, dentro do banheiro, alguém esqueceu e assim continuou. Mas que deu vontade de levar, ah isso deu.

Bebemos água para radiador em Antofagasta.


Precisávamos levar combustível extra, como não havia vasilhame, comprei um de água com 5 litros e resolvemos derramar a água e colocar gasolina, já que iríamos precisar devido a distancia entre os postos. Deu-me dó de derramar toda aquela água e resolvi beber e ainda ofereci para a Kátia que também tomou sedenta. Enquanto eu tomava a água, o frentista bate na minha costa e diz assustado: “Senhor essa água é para colocar em radiador e bateria”. Pronto! Pensa na agonia, pensei na água corroendo todo meu estomago, a Kátia começa logo a passar mal e desesperado, resolvo ler o que testava escrito no vasilhame. Não era nada, apenas água desmineralizada. Aff! Que susto. Depois dessa água passei a me sentir bem melhor. Beba água de radiador.






Teste aqui a sua velocidade...Velocimetro RJNET