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domingo, 20 de janeiro de 2008

Atacama - Parte II

Parte II
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Pegamos uma rodovia errada na Argentina e rodamos alguns quilômetros a mais, tivemos que retornar e recomeçar na rota correta, erro de 160 quilômetros. Cansaço e gasto com combustível. Para compensar o erro tive que enrolar ainda mais o cabo do acelerador, 140 km.
Saindo da cidade de Salta em direção a Susques começamos realmente a nossa aventura. Nesse trecho já há a necessidade de muita atenção com o combustível, os postos de gasolina ficam cada vez mais distantes e temos que calcular a quilometragem a todo instante. A moto tem seu consumo alterado e passa a consumir mais combustível. Logo percebemos os efeitos da altitude que cada vez mais começa a nos afetar, falta oxigênio tanto para a moto quanto para nós.
No dia 4 de outubro em direção a Susques, tivemos o privilegio de almoçar com uma família de nativos em um vilarejo chamado três poços. O cardápio bem sugestivo, carne de llama. Carne saborosa, nós não percebemos muita diferença da carne de gado. Bife delicioso.
O convívio com os nativos é muito interessante, você aprende bastante e eles ainda te passam informações valiosas. Muito interessante mesmo.


Em Susques está o ultimo abastecimento para chegar a San Pedro do Atacama. O primeiro posto que tentamos não havia combustível, tomei um susto porque pensei que só havia um posto, mas logo descobrimos que havia outro ao lado do hotel em que ficamos hospedados. Um hotel muito aconchegante e limpo, mas acima da media em termos de valores.
O que nos chamou atenção mesmo foi o fato de termos internet no hotel e ainda Tv Sky para assistirmos. Muito legal!


O proprietário do hotel nos disse que o local chega fácil aos 30 graus negativos no inverno. Estava bastante frio, mas suportável ainda.
A respiração ofegante começa a incomodar. Minha esposa Kátia reclama do cansaço, na verdade a falta de oxigênio é evidente, mas tínhamos uma noite inteira para nos acostumarmos a altitude. Coisa que não ocorreu.
No jantar conhecemos muitas pessoas, fizemos amizade com todos que estavam hospedados e apresentei até alguns truques de mágica para animar a noite fria de Susques. Eles adoraram, fizemos um barulho legal, coisa de brasileiro.
A amizade que fizemos com os hospedes foi o que nos valeu e salvou a Katia de passar por momentos de frio impiedoso, ela tremia feito vara verde. Conseguimos chegar até passo de Jama, onde fizemos os tramites para saída da Argentina.
A solidariedade veio ao nosso socorro e o casal que estava de carro se ofereceu para levar a Kátia até San Pedro do Atacama, já que ela estava passando por momentos realmente difíceis, frio extremo. Aceitamos sem nenhuma cerimônia.
Em Susques também, tratei de levar combustível extra, mas o calculo que fiz, não contava com o com sumo extra da moto devido a altitude. A moto sofria bastante e não adianta acelerar, a velocidade é uma só quarenta quilômetros por hora. O Maximo que conseguia era cinqüenta, não mais.



O Frio mostra a sua verdadeira face...

O frio começa a me acoitar sem nenhuma piedade, o vento sopra e sinto como se atravessasse meu corpo, cortando até a alma. Todo o estoque de roupa de frio já estava em uso, e nada adiantava. Até as cuecas foram usadas para cobrir a cabeça e o rosto. Nessa hora é que me veio a frase inicial: “Grandes navios estão mais seguros nos portos, mas não foi para isso que foram feitos.” Comecei a cantar, digo cantarolar a frase.

Altitude e seus efeitos....

Quatro mil e duzentos metros de altitude, o corpo da o sinal de desgaste, a moto falha cada vez mais. No horizonte vejo como se alguém movesse a nevoa com as próprias mãos. O vento sopra de maneira assustadora e o medo se abete sobre mim.
Sozinho começo a pensar, reflito sobre o grande desafio, penso na família, penso na esposa que deveria voltar em segurança, tinha uma grande responsabilidade em minhas mãos. O termômetro marca oito graus negativos. As pernas dos óculos parecem queimar quando mudo de posição no rosto. Um quilometro parece uma eternidade e não consigo fazer a moto render.
De repente o combustível acaba e trato logo de colocar o combustível reserva. Um martírio. Não consigo devido ao vento forte que sopra e joga a gasolina fora. Com muito esforço consegui repor, mas perdi bastante combustível precioso e que me faltaria logo em seguida.


Combustivel acaba novamente...

O combustível acaba novamente e mudo para a chave reserva. Contava com três litros fazendo pelo menos quarenta quilômetros, mas a moto só estava fazendo dez quilômetros por litro e logo fico novamente sem nenhum combustível. Agora aparentemente todo o combustível se esgota. Quando isso aconteceu, eu estava exatamente no topo da montanha e começava a descer.
Uma mistura de medo e pavor toma conta de mim. Lembrei que dois brasileiros me falaram de uma descida de quarenta e dois kilometros com o motor desligado, eu estava exatamente no ponto da descida. Desliguei o motor e o milagre aconteceu. Desci até chegar muito próximo da aduana chilena, virei a moto e consegui mais alguns metros ate o posto, depois de passar pelo tramite de ingresso no Chile. Consegui! Estamos em San Pedro do Atacama. Felicidade geral.
Alguém me disse depois que não foi o virar da moto que me deu mais algum combustível, na verdade o combustível não acabará totalmente. Sei lá! Cheguei.
A Kátia que estava com o casal do hotel já me esperava preocupada pela demora em chegar.
San Pedro do atacama é um local árido, inóspito e cheio de turistas por todos os lados. Tudo é explorado ao máximo.

Chegando ao Chile....

Agora em território Chileno, estávamos efetivamente no Deserto do Atacama. Tudo muito seco, sem vegetação, um calor infernal que logo se transforma em frio ardente, isso mesmo, ardente porque queima como se fosse fogo. A temperatura muda de 37º para 5º em questão de horas, as vezes minutos, se você estiver na estrada.
Logo chemagos a Calama.Uma cidade muito fria em território Chileno. Aproveitamos e fomos usar a internet e jantar. Uma cidade não menos fria se comparada as outras que já havíamos percorrido. Saímos de Calama as 6 da manhã, um frio intenso, a noite fazia três graus, mas o frio já não mais nos amedrontava. Seguimos para Antofagasta.
Muita gente que faz essa travessia de Susques até San Pedro do Atacama leva Oxigênio, em especial pessoas idosas, uma boa alternativa, já que realmente respirar acima de 3600 metros é um sacrifício para quem não mora no local.
O frio intenso nos coloca diante de uma situação bem interessante. Precisávamos de mais luva, a que tínhamos não estava resolvendo. Paramos para um chocolate quente em um posto e dentro do banheiro lá estava a luva que precisávamos, sozinha, sem dono e pedindo, me leva! A coitada da luva ficou lá sozinha, dentro do banheiro, alguém esqueceu e assim continuou. Mas que deu vontade de levar, ah isso deu.

Bebemos água para radiador em Antofagasta.


Precisávamos levar combustível extra, como não havia vasilhame, comprei um de água com 5 litros e resolvemos derramar a água e colocar gasolina, já que iríamos precisar devido a distancia entre os postos. Deu-me dó de derramar toda aquela água e resolvi beber e ainda ofereci para a Kátia que também tomou sedenta. Enquanto eu tomava a água, o frentista bate na minha costa e diz assustado: “Senhor essa água é para colocar em radiador e bateria”. Pronto! Pensa na agonia, pensei na água corroendo todo meu estomago, a Kátia começa logo a passar mal e desesperado, resolvo ler o que testava escrito no vasilhame. Não era nada, apenas água desmineralizada. Aff! Que susto. Depois dessa água passei a me sentir bem melhor. Beba água de radiador.






Teste aqui a sua velocidade...Velocimetro RJNET

3 comentários:

  1. Olá, fiquei maravilhada com a coragem de vocês, parabéns!!
    Abraços
    Mirtes

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  2. Putz, Waldez, lendo seus relatos é como se vivenciasse novamente minhas viagens. Pela passagem de Jama, na aduana argentina, aquele posto de combustível existia mas não estava homologado. Não estava funcionando! Ainda bem que tinha um galão de 5 litros para minha velha LC1500 2004. Cheguei no vapor em San Pedro de Atacama... he he he....

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